Enquanto fazia um registo do convento e igreja de São Gonçalo, em Amarante, ouvi uma rapariga dizer “Caneta fotográfica!! Já viste?! Vou ser eu a inventar!!”. Não olhei para ver quem era mas registei imediatamente a frase na página oposta aquela em que estava a desenhar.
O raciocínio faz algum sentido. No entanto, através do desenho, consigo um tipo de relação com o que me rodeia que é ligeiramente distinta da relação que as pessoas em geral mantêm com o real através da máquina fotográfica. Vivemos numa sociedade sem tempo. Vejo as pessoas carregarem centenas de ficheiros nas suas máquinas fotográficas digitais porque simplesmente não tiveram tempo para apreciar aquilo que registaram e, nesse sentido, fica apenas o “para mais tarde recordar”. Mas haverá alguma coisa para recordar mais tarde? Absorvem o superficial em grande quantidade.
O desenho à vista obriga a uma atitude bastante diferente.
Obriga-me a escolher o local para me sentar, a observar com atenção o que vou desenhar, de que perspectiva e com que materiais. Depois o pensamento desliga e o espaço é percepcionado com uma concentração e intensidade que me transportam para um estado de alerta e atenção fora do comum. Não é à toa que muitos desenhadores dizem que, quando olham para um desenho que fizeram à muito tempo atrás, lembram-se perfeitamente do momento em que o fizeram como se tivesse sido feito à poucos minutos. O envolvimento entre observador e observado é intenso, é silencioso, é um momento de entrega. Os odores misturados, o burburinho dos animais e das pessoas, os comentários, as particularidades do que se desenha, a interacção e a dinâmica do espaço, as relações entre os sujeitos, as actividades que se desenrolam…
Os desenhos aqui apresentados são retirados do meu diário gráfico e são uma série de registos feitos em Amarante ao longo de duas estadias em dois momentos diferentes. Não seguem uma ordem cronológica particular. Apenas um percurso em redor da Ponte Velha e que termina no interior do Museu Amadeo de Sousa Cardoso.
Aliás são tens apenas uma bela caneta fotográfica, mas também estilográfica.
Obrigado Luís!
Como cidadão amarantino, quero dizer que tem uns trabalhos com um bom sentido do olhar, expressividade do local e de uma beleza própria.
Obrigado pelos registos aqui apresentados.
Pergunto: Onde se poderá adquirir o seu livro?
Trabalhos escelentes!!
Olá José. Muito obrigado! A revista “Aliás” é um projecto associado a um centro de estudos (CELCC) do Instituto Superior da Maia (ISMAI) e não se encontra no mercado à venda. Envie um email para “celcc@ismai.pt” dizendo que teve contacto com este trabalho e que está interessado em adquirir a revista. Penso que não haverá problema nenhum em enviar-lhe um exemplar pelo correio. Abraço.