A cibercultura nasce com as tecnologias digitais, numa convergência entre as telecomunicações e a informática, nos anos 70. Um factor importante no seu desenvolvimento é a noção de sociedade em rede. Efectivamente, com esta sociedade conectada, passa-se a habitar um espaço virtual, interagindo, onde se produz e consome informação. No entanto, este espaço virtual está ligado a um processo de desmaterialização do mundo, em que torna-se evidente na transposição de um quotidiano físico para um quotidiano virtual, onde não só a noção comum de espaço é, de repente, abalada, como também a noção de distância virtual passa a ter um significado bastante diferente de distância física, na sua relação com a noção de tempo.
Outro aspecto importante é a forma colectiva, massificada, em que se dá o consumo. Aqui surge a noção de inteligência colectiva (Pierre Levy). “…Nenhum de nós pode saber tudo; cada um de nós sabe alguma coisa; e podemos juntar as peças, se associarmos nossos recursos e unirmos nossas habilidades.” (Jenkins, 2008:28) A circulação de mensagens, a partilha da informação, passa a ser feita, não só pelas indústrias culturais dominantes, mas também (e cada vez mais) pelos sujeitos de forma individual e colectiva.
Está em causa uma forma diferente de nos relacionarmos com os outros e o mundo em geral. Não substituindo as anteriores formas de interacção, estas relações virtuais surgem com novos códigos semióticos onde as próprias mensagens muitas vezes adquirem significados que só podem ser descodificados no contexto de toda esta rede virtual.
A cibercultura tem uma relação íntima com a chamada “cultura da convergência” proposta por Jenkins (2008). Esta cultura da convergência caracteriza-se, segundo Jenkins (2008) pela convergência dos meios de comunicação, pela cultura participativa e pela inteligência colectiva. Quando o autor fala em convergência, este refere-se ao fluxo de conteúdos através de múltiplos média, a cooperação entre múltiplas indústrias culturais e ao comportamento “migratório” dos consumidores. (Jenkins, 2008:27)
A questão da cultura participativa surge aqui neste contexto onde se cruzam meios de comunicação, conteúdos e consumidores. Deixam de ser consumidores para passarem a ser igualmente produtores de conteúdos. Anula-se assim uma fronteira que separava estas duas categorias. Agora, fundem-se numa cultura participativa, onde o consumo passa a ser um processo colectivo, onde os conteúdos circulam “livremente” contribuindo para a formação e enriquecimento de uma inteligência colectiva.
Segundo Jenkins, “A expressão cultura participativa contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtores e consumidores de média como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de nós entende por completo.” (2008:28)
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Jenkins, Henry (2008), Cultura da convergência. São Paulo: Aleph
Jenkins, Henry (s.d.), Confessions of an Aca-Fan, em http://henryjenkins.org, última consulta a 15.02.2013
Lemos, André (s.d.), Ciber-Socialidade. Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea, em http://hermes.ucs.br/ccha/deps/cbvalent/EAD/homepsico/andre.html, última consulta a 15.02.2013
Lemos, André (1997), Arte Electrônica e Cibercultura, Revista Famecos, nº 6, Porto Alegre
Gostei muito de ler. Um tema no qual e sobre o qual é bem preciso pensar com o distanciamento próprio dum imediatismo de vida que se instalou. Daria um bom motivo para uma boa conversa.
Obrigado pelo comentário Helena. O tópico é realmente muito interessante e chama a atenção para todo esse imediatismo que vivemos no dia-a-dia… Diria que as noções de espaço e tempo estão a mudar radicalmente…
Olá Tiago,
atenção nesta parte do seu texto sublinhada abaixo, pois quem propõe esta conceituação é o Jenkins e não o Lemos.
“Esta cultura da convergência caracteriza-se, segundo Lemos (2008) pela convergência dos meios de comunicação, pela cultura participativa e pela inteligência colectiva”
Muito obrigado pelo feedback e pela correção professora. O texto já foi alterado…