A comunicação contemporânea é marcada não só pela hibridização de média (Santaella, 2008; Machado, 1993) como também pela participação e colaboração do utilizador/leitor/consumidor, transformando-o numa espécie de produtor/co-autor. A Narrativa transmédia é uma forma particular de comunicar que surge neste contexto de complementaridade entre os diversos média. Como consequência das novas formas de consumo de informação ou como estratégia por parte das indústrias culturais para conseguirem chegar de forma mais eficaz às massas, este tipo de narrativa é uma realidade que deve ser analisada com atenção. A forma como produzimos e consumimos informação sofre transformações ao longo dos tempos e, nesse sentido, a narrativa transmédia é mais um reflexo desse comportamento.
Jenkins (2008) fala numa cultura da convergência ao verificar que os média convergem entre eles, complementando-se, e que o sujeito assumiu um papel fundamental na produção de conteúdos. Desta forma, deixa de fazer sentido a separação que antes existia entre produtor e consumidor. O autor identifica 3 pilares fundamentais na caracterização desta cultura da convergência: a convergência de meios; a inteligência colectiva; e a cultura participativa.
Falar sobre narrativas transmédia implica recuar um pouco e apresentar as definições de multimédia e crossmedia. Assim sendo, fala-se em multimédia quando está em causa uma história que é contada recorrendo a vários média. O consumo desta história resulta numa determinada interpretação. (1H – vários M – 1I) Fala-se em crossmedia quando uma história é contada não por vários média, mas em vários média. O consumo dá assim lugar a diferentes interpretações. Por exemplo, a mesma história do Harry Potter é contada em livros e em filmes. (1H – vários M – várias I)
Relativamente à narrativa transmédia, esta identifica-se quando várias histórias são contadas, cada uma delas, através de diferentes média. Por sua vez, o consumo destas histórias, em cada um dos média, dá origem a interpretações individuais mas que constituem uma narrativa no seu todo. Por exemplo, o Matrix com a triologia, juntamente com os livros BD e o mundo virtual. (várias H – vários M – várias I -> 1N)
“Narrativa transmédia representa um processo no qual elementos de uma ficção estão sistematicamente dispersos através de múltiplos canais de distribuição com o intuito de criar uma experiência de entretenimento única e coordenada. Idealmente, cada meio contribui de forma única para o desenrolar da história.” (Jenkins, 2008) Neste contexto, poderão ser extraídas uma série de características: partilha da informação, a natureza imersiva, a construção de diversos universos que funcionam como extensões da narrativa e que assumem um papel na cultura participativa (performance), a serialidade (vários núcleos narrativos), entre outras.
A narrativa transmediática tem assim uma relação íntima com a cultura da convergência contemporânea identificada por Jenkins, indo de encontro aos 3 pilares definidos pelo autor. Esta forma de narrativa apoia-se, em grande medida, não só na convergência dos média, como também na cultura participativa por parte dos consumidores e, nesse sentido, originando a construção, manutenção e manipulação de uma inteligência colectiva.
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Jenkins, Henry (2008), Cultura da convergência. São Paulo: Aleph
Jenkins, Henry (s.d.), Confessions of an Aca-Fan, em http://henryjenkins.org, última consulta a 15.02.2013
Machado, Arlindo (1993), Máquina e Imaginário – O desafia das poéticas tecnológicas, São Paulo: Ed. Use
Santaella, L. (2003), Culturas e Artes do Pós-Humano, Paulus: São Paulo
As reflexões que apresenta estão bastante aprofundadas e percebi que utilizou material de estudo na monografia final. Muito bom, era este mesmo o intuito quando propus que criassem um blog da disciplina. Muito bom!!
Obrigado!