“UrbanSketching Amarante” na Revista Aliás #2, 2011

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Enquanto fazia um registo do convento e igreja de São Gonçalo, em Amarante, ouvi uma rapariga dizer “Caneta fotográfica!! Já viste?! Vou ser eu a inventar!!”. Não olhei para ver quem era mas registei imediatamente a frase na página oposta aquela em que estava a desenhar.

O raciocínio faz algum sentido. No entanto, através do desenho, consigo um tipo de relação com o que me rodeia que é ligeiramente distinta da relação que as pessoas em geral mantêm com o real através da máquina fotográfica. Vivemos numa sociedade sem tempo. Vejo as pessoas carregarem centenas de ficheiros nas suas máquinas fotográficas digitais porque simplesmente não tiveram tempo para apreciar aquilo que registaram e, nesse sentido, fica apenas o “para mais tarde recordar”. Mas haverá alguma coisa para recordar mais tarde? Absorvem o superficial em grande quantidade.

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O desenho à vista obriga a uma atitude bastante diferente.

Obriga-me a escolher o local para me sentar, a observar com atenção o que vou desenhar, de que perspectiva e com que materiais. Depois o pensamento desliga e o espaço é percepcionado com uma concentração e intensidade que me transportam para um estado de alerta e atenção fora do comum. Não é à toa que muitos desenhadores dizem que, quando olham para um desenho que fizeram à muito tempo atrás, lembram-se perfeitamente do momento em que o fizeram como se tivesse sido feito à poucos minutos. O envolvimento entre observador e observado é intenso, é silencioso, é um momento de entrega. Os odores misturados, o burburinho dos animais e das pessoas, os comentários, as particularidades do que se desenha, a interacção e a dinâmica do espaço, as relações entre os sujeitos, as actividades que se desenrolam…

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Os desenhos aqui apresentados são retirados do meu diário gráfico e são uma série de registos feitos em Amarante ao longo de duas estadias em dois momentos diferentes. Não seguem uma ordem cronológica particular. Apenas um percurso em redor da Ponte Velha e que termina no interior do Museu Amadeo de Sousa Cardoso.

Fachadas junto ao Tâmega

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Detesto desenhar em pé… mas este teve mesmo que ser. Amarante tem uns passeios fantásticos pelas margens do rio Tâmega onde podemos apreciar as fachadas das casas do outro lado da margem. A arquitetura é bastante antiga mas bem conservada. Mantendo ainda hoje, em muitos casos, os telhados com estrutura em madeira.
Amarante, Portugal, 03.05.2011

Homem a desenhar

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Eram mais ou menos 14h20. No dia anterior um homem na casa dos 50, vestido formalmente (fato e gravata), sentou-se naquele banco a desenhar. Pensei que se calhar poderia ser um USk de Amarante… mas também não me lembro de ter visto no blog alguém de Amarante… No dia seguinte, quando este desenho foi feito, assim que terminei, o homem voltou a aparecer. Passou por mim, sentou-se no mesmo banco, retirou um caderninho do bolso de dentro do blazer e começou a desenhar.
Amarante, Portugal, 3.05.2011

casal idoso

casal
Estavam os dois sentados em bancos diferentes. Entretanto, ele chamou-a e continuou a olhar para o rio… voltou a chamar e olhou para o rio novamente. Ela levantou-se muito lentamente e, fazendo ainda duas paragens pelo caminho, dirigiu-se a ele. Ficaram sentados um ao lado do outro. Simplesmente observavam o rio e falavam muito pouco.
Amarante, Portugal, 02.05.2011