A Narrativa Transmédia

A comunicação contemporânea é marcada não só pela hibridização de média (Santaella, 2008; Machado, 1993) como também pela participação e colaboração do utilizador/leitor/consumidor, transformando-o numa espécie de produtor/co-autor. A Narrativa transmédia é uma forma particular de comunicar que surge neste contexto de complementaridade entre os diversos média. Como consequência das novas formas de consumo de informação ou como estratégia por parte das indústrias culturais para conseguirem chegar de forma mais eficaz às massas, este tipo de narrativa é uma realidade que deve ser analisada com atenção. A forma como produzimos e consumimos informação sofre transformações ao longo dos tempos e, nesse sentido, a narrativa transmédia é mais um reflexo desse comportamento. Continue reading

Cultura da Convergência

A cibercultura nasce com as tecnologias digitais, numa convergência entre as telecomunicações e a informática, nos anos 70. Um factor importante no seu desenvolvimento é a noção de sociedade em rede. Efectivamente, com esta sociedade conectada, passa-se a habitar um espaço virtual, interagindo, onde se produz e consome informação. No entanto, este espaço virtual está ligado a um processo de desmaterialização do mundo, em que torna-se evidente na transposição de um quotidiano físico para um quotidiano virtual, onde não só a noção comum de espaço é, de repente, abalada, como também a noção de distância virtual passa a ter um significado bastante diferente de distância física, na sua relação com a noção de tempo. Continue reading

O corpo biocibernético e o advento do pós-humano

A forma como vemos o corpo, como interagimos com ele, como o usamos, como o representamos, etc., enquanto recurso semiótico de comunicação, está ligada a todo um contexto de desenvolvimento cultural e apresenta-se associado a diferentes discursos semióticos que têm raízes nos seus usos passados que acabam por moldar o potencial semiótico presente. No seio deste desenvolvimento, em particular o desenvolvimento científico e tecnológico, surge, no início do presente século, um tipo de corpo denominado de corpo biocibernético. Um corpo “… híbrido entre o orgânico e o maquínico…” que nos leva à “… convicção de que o ser humano já está imerso em uma era pós-biológica, pós-humana.” (Santaella, 2003:182) Continue reading

Máquinas Semióticas

A imagem produzida através de meios tecnológicos não é apenas algo que deverá estar associado ao sentido comum que se dá a “novas tecnologias”. Neste contexto, as imagens surgem associadas a um tipo de produção que está ligado, essencialmente, às tecnologias “maquínicas”. Como refere Dubois (2004:31), em termos históricos, a produção de imagens sempre esteve associada a determinadas tecnologias.

Techné está associada à arte do fazer humano e, assim sendo, esta necessita de instrumentos (regras, processos, materiais, construções, peças) e de um funcionamento (processo, dinâmica, acção, agenciamento, jogo). (Dubois, 2004:33)

Explorando a relação entre técnica e estética, Dubois centra-se em quatro “máquinas de imagens”: a fotografia, o cinematógrafo, a televisão/vídeo e a imagem informática. O autor acrescenta que, na realidade, estas tecnologias, no contexto da sua novidade, não fizeram nada mais do que “… repor na ordem do dia antigas questões de representação, reactualizando (num sentido nem sempre inovador) velhos desafios da figuração.” (2004:34) Neste sentido Dubois desconstroi o discurso semiótico da novidade que acompanha o surgimento das tecnologias.

Segundo o autor (2004:35), este discurso da novidade, associado a uma “intenção revolucionária”, apoia-se numa retórica e numa ideologia. Ora serve de “gancho”, numa lógica publicitária, ora apoia-se num profetismo, numa visão sobre um futuro. Está em causa uma ideologia de ruptura (recusa da história) e uma ideologia do progresso contínuo (cego). Continue reading

Máquina e Imaginário

Machado começa com um retrato sobre o panorama artístico pós-moderno no que respeita ao cruzamento entre as tecnologias e a arte. Começa com as estéticas informacionais, nos anos 60, que ambicionaram a criação de modelos matemáticos capazes de avaliar a obra de arte, não só contemporânea mas igualmente obras de outros tempos. No entanto, é na produção artística que “… baseia os seus princípios formativos no computador ou na sua maneira de operar” (Machado, 1993:21) que estes modelos estão mais centrados. Machado refere que a existência das estéticas informacionais derivam destas obras resultando numa “informatização da produção artística.” (1993:21) Seguidamente passa pelo movimento de vídeo-arte, nos EUA, que, apesar de partilhar igualmente um interesse pelas tecnologias, segue um caminho oposto, na direcção de um irracionalismo assumido e de uma elevação espiritualizante. (Machado, 1993:22) Este movimento, ligado ao fenómeno de contra-cultura e aos movimentos de contestação da Nova Esquerda americana, procura “… desintegrar a imagem especular consistente produzida pelos dispositivos tecnológicos e intervir directamente sobre o fluxo dos eléctrons, criando configurações e texturas desvinculadas de qualquer homologia com um modelo exterior.” (1993:22) Por fim, termina na exposição Surveillance (1987), em Los Angeles, onde os artistas usavam a tecnologia enquanto recurso no sentido de este se auto-destruir, se auto-corromper. O objectivo passava por uma “conspiração contra a máquina” em que a tecnologia usada pelo poder institucional para controlo e disciplina dos cidadão surgia como algo programavel de forma a se auto-destruir. (Machado, 1993:23) Segundo o autor, “É como se os artistas de Surveillance se propusessem o seguinte: eis como se pode, cumprindo exactamente as potencialidades da máquina, obter resultados para os quais ela não está programada e que lhe são inapelavelmente destrutivos.” (1993:23)

Machado conclui que poderá ser mais interessante “… aplicar à arte produzida com recursos tecnológicos o mesmo raciocínio que Walter Benjamin (1968:72) aplicou à fotografia e ao cinema: o problema não é saber se ainda podemos considerar ‘artísticos’ objectos e eventos tais como um holograma, um espectáculo de telecomunicações, um gráfico de computador ou um software de composição musical. O que importa é perceber que a existência mesma dessas obras […] colocam em crise os conceitos tradicionais e anteriores sobre o fenómeno artístico, exigindo formulações mais adequadas à nova sensibilidade que agora emerge.” (1993:24) Continue reading

A reprodução mecânica

O processo de mecanização dos processos, decorrente da revolução industrial, revolucionou diversos aspectos do quotidiano do Homem. Na arte, as consequência são igualmente profundas. Até aqui a obra de arte poderia ser reproduzida através de processos manuais. No entanto, a reprodução mecanizada representa algo novo. (Benjamin, 2010:13)

A reprodução mecanizada, desde a Gravura, passando pela litografia e posteriormente com a fotografia, altera os significados associados à obra de Arte. Altera o seu valor de verdade (Cruz, 2012; Leeuwen, 2005) Segundo Benjamin, à reprodução falta-lhe o “aqui e agora” da obra de arte, o seu hic et nunc. (2010:14) Este “aqui e agora” está associado à existência da obra num determinado espaço e tempo. Veja-se, por exemplo, como Mónica Cid fala no “aqui e agora” do desenho sublinhando o seu valor de verdade, autenticidade, objectividade, entre outros. Segundo a perspectiva de Benjamin, a obra reproduzida perde o seu valor de autenticidade pois ela é a sua cópia. “O hic et nunc do original forma o conteúdo da noção de autenticidade…” (2010:15) Continue reading

A técnica em Heidegger e McLuhan

A procura de mediação entre o Homem e o que o rodeia é essencial no desenvolvimento cultural. Segundo Vasconcelos e Sá, “A procura de figuras da mediação é […] sinónimo da procura de um caminho, de uma organização que permita estruturar e estabilizar visões do mundo organizadoras da experiência.” (2001:124)

A tecnologia é um elemento importante neste processo de mediação. Estes recursos semióticos são utilizados, ou podem ser utilizados, pelo sujeito para comunicar, para construir sentido, num determinado contexto espácio-temporal, público e/ou privado. A tecnologia suporta esta mediação público e/ou privada. (Vasconcelos e Sá, 2001:124) É importante salientar que esta divisão entre esfera privada e esfera pública é algo que tende a desaparecer com o advento da modernidade. No entanto, é na pós-modernidade que a fronteira se torna extremamente ténue. Segundo Bauman, “Ehrenberg, sociólogo francês, afirmou que, em sua opinião, a revolução pós-moderna começou numa quarta-feira à noite, num Outono da década de 1980, quando uma certa Vivienne, uma mulher comum, na presença de 6 milhões de espectadores, declarou nunca ter tido um orgasmo durante o seu casamento, porque seu marido, Michel, sofre de ejaculação precoce.” (2011) Bauman defende que o que marca a diferença entre a era moderna e a era pos-moderna é o facto de a Ágora -o espaço público, o colectivo- ter sido conquistada pela privacidade, pelo individual. (Cruz, 2012:37) Continue reading

Heidegger, a técnica e o Diário Gráfico – Parte II/II

A passagem para a noção de produção é feita através de uma citação de Platão em que este refere “Todo deixar-viger o que passa e procede do não-vigente para a vigência é […] produção”. (HEIDEGGER, 2002:16) Associa-se assim os 4 modos de dever e responder à produção e ao produzir, à atividade e ao acto, ao verbo.

Um aspecto importante que o autor salienta é o facto de a produção e o produzir estarem não só associados ao objecto -confeccionado pelo artesão ou criado pela arte- como também aquilo que cresce na natureza. Sendo assim algo transversal à própria oposição de Natureza/Cultura.

O deixar-viger está associado à vigência do objecto, à sua materialização e apresentação. Neste contexto o autor associa produção ao processo de revelação, ao desencobrimento, ao tornar visível algo que estava oculto. É neste processo surge a noção de “verdade” sendo aqui entendida como “… o correto de uma representação.” (HEIDEGGER, 2002:16)

Este percurso que Heidegger faz pela instrumentalidade e causalidade serve o intuito de chegar mais perto daquilo que é a técnica. Segundo o autor, é no desencobrimento, neste processo de revelação, de tornar visível, de chegar à verdade, que se funda toda a produção. “Se questionarmos, pois, passo a passo, o que é propriamente a técnica conceituada, como meio, chegaremos ao desencobrimento. Nele repousa a possibilidade de toda elaboração produtiva.” (HEIDEGGER, 2002:17) Continue reading

Heidegger, a técnica e o Diário Gráfico – Parte I/II

Heidegger começa por afirmar que a procura da essência de algo está associada à questão do que é esse algo e, neste sentido, colocando a questão de o que é relativamente à técnica, o autor começa por avançar com a determinação instrumental e antropológica da técnica que diz que este é, por um lado, um meio para um fim e, por outro, uma actividade do Homem. (2002:12)

Instrumento e actividade estão ambos interligados em que um está ao serviço do outro. No contexto da comunicação, em particular, da semiótica social de Theo Van Leeuwen, a técnica enquanto instrumento está associada a própria noção de recurso semiótico. Segundo Leeuwen (2005:3), recursos semióticos são as acções e/ou artefactos que utilizamos para comunicar, quer sejam produzidos fisiologicamente (sistema vocal, musculos para criar expressões faciais ou gestos, entre outros) ou tecnologicamente (caneta, tinta e papel; com hardware e software, com tecidos tesouras e máquinas de costura, entre outros).

Para Heidegger, a procura da essência prende-se com procura da verdade. Assim sendo, apesar de a determinação instrumental e antropológica da técnica ser correcta, ela não esta ligada forçosamente à descoberta da essência, da verdade. “… o simplesmente correto ainda não é o verdadeiro.” (HEIDEGGER, 2002:13) Continue reading